Corrompendo a ética desmoronando
a moral
Na questão da corrupção
todas as pessoas
têm o rabo amarrados
umas com as outras
WALQUER CARNEIRO
Um estudo semântico do termo
corrupção nos leva a descobrir que a designação da palavra leva ao
entendimento de uma ação que contribui para a destruição gradual de algo concreto ou
abstrato, e por isso, com certeza, digo que conceitos seculares, apenas, não dão conta de explicar a gênese das ações
adulteradas que produzem o desequilíbrio
do relacionamento entre humanos.
Muito se fala em combater a corrupção, todavia
quase nada se debate sobre as raízes que provocam o ato de corrupção. O que são
essas raízes provocadoras da corrupção?
Algumas perguntas há que se
fazer, e para muitas delas não será encontrada resposta que possam satisfazer
uma mente mais conservadora.
Para que servem as ações de
corrupção? A quem serve os atos de
corrupção? Se a corrupção é tão nefasta porque há tanto obstáculo em
combatê-la?
Muito mais do que ações de
apropriação de dinheiro público, como comumente se vê publicado na mídia
tradicional, a corrupção é uma das
atitudes mais dissimulada dos seres humanos e se espalha por todos os setores
da sociedade, pois todos os seres humanos levam na essência o gene da corrupção,
e a praticam sejam eles de qualquer
idade, classe social, categoria religiosa ou grau de evolução do sujeito, individual ou coletivo, público ou privado.
Entretanto todos os seres
humanos, com raras exceções, abominam a
corrupção querendo exterminá-la, e essa
contradição dual dificulta amenizar as
ações corruptas entre os grupos humanos. Pois para todas as pessoas o corrupto é sempre o outro, principalmente se
for uma pessoas que exerça um cargo público. Quando se fala em combater a
corrupção se pensa primeiro em mandar prender, julgar e condenar e executar a
pena em relação a políticos, dando a impressão de que a corrupção é praticada
apenas com a participação e permissão dos políticos.
Os atos de corrupção são praticados
em uma corrente onde existe uma infinidade de elos interligando interesses
quase sempre envolvendo poder econômico, político, religioso e privado no alto,
médio e baixo escalão. Esses são os elos principais da cadeia de corrupção na
face deste planeta. Em suma, falando-se em corrupção todos nós temos o rabo
preso uns com os outros, por isso a gigantesca dificuldade de acabar com ela.
Desde os primórdios das civilizações
a corrupção serve para angariar benefícios a custa de prejuízo de outros que se
submetem por força, quase sempre, de
intimidação. A corrupção é praticada a partir de um ato de uma entidade civil
ou pública, física ou jurídica emanada do topo da pirâmide social que
força um cidadão ou uma comunidade a cumprir com uma obrigação que vai além de
sua possibilidade, e que por isso há que se corromper alguém acima para aliviar
a carga.
Passiva ou ativa a ação de
corrupção, em princípio, nunca serve a interesses menores, e sim a efetivar os
regalos da aristocracia, dos que vivem no topo da pirâmide social, engana-se
quem pensa que os corruptos são apenas
aqueles que são os mais visíveis no ato. Aqueles a quem é
destinado os resultados da corrupção ficam sempre à sombra, pois os membros da
aristocracia são os verdadeiros beneficiados pelo estado de corrupção de uma
sociedade. A corrupção é praticada para que os do topo da pirâmide social
possam usufruir dos direitos que por natureza serviriam também aos que estão na parte inferior da pirâmide
social. Assim foi se criando uma cadeia de cima para baixo se espalhando por
todas as classes sociais contaminando a mente e o espírito de todos que
repudiam tal prática, mas resistem a
fazer algo efetivo e vigoroso para combater a prática que porá em risco suas
próprias peles.
É através da corrupção, em todos
os níveis sociais, que a aristocracia se
perpetua como poder invisível, e é justamente por isso que se consegue fazer
pouco ou quase nada com a finalidade de combater efetivamente a corrupção.
Um dos maiores exemplos do poder
aristocrático na manutenção dos mecanismos de corrupção no Brasil foi a
compactuação da justiça brasileira com a anulação do processo que denunciava o
banqueiro baiano Daniel Dantas como o
coordenador do maior grupo de empresários corruptores da nação.
O caso conhecido com Operação
Satiagraha, conduzida pelo Delegado Protógene Queiroz, da Polícia Federal, conseguiu provar a atuação de Dantas em ações
corruptoras, e assim ele foi preso, e
depois de condenado pelo Juiz Fausto De Sanctis da 6ª Vara Criminal Federal de
São Paulo. Sendo que Dantas foi solto logo depois pela força de um hábeas
corpus concedido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, um
dos envolvidos na teia de corrupção de Dantas que é um exemplar da aristocracia brasileira remanescente
da linhagem do Barão de Jeremoabo, senhor de engenho da Bahia, que contribuiu para o extermínio de Antônio Conselheiro, o guia de Canudos, um
celebre representante do proletário nordestino que desafiava a aristocracia
daquela região.
Na prática a corrupção funciona mais ou menos assim: eu sou um candidato e preciso de apoio para me eleger. Você é um empresário ou um político e me oferece apoio (que pode ser em dinheiro, influência sobre forças políticas importantes, etc.), mas faz várias exigências em troca, como, por exemplo, a reserva de “x” cargos em meu gabinete para pessoas de sua confiança. Eu também posso ser clientelista lutando pela aprovação de leis que ajudem seu negócio a prosperar, em detrimento de leis que possam realmente ajudar a população. Não tem nada demais, não acha? Ou tem? Estas são as duas características mais fortes do clientelismo: o nepotismo legitimado e o oligarquismo, alerta o professor. Nesse joguinho de favores, aqueles que foram eleitos para serem nossos representantes acabam entregando de bandeja o poder a pessoas e grupos econômicos que não estão nem aí para a população. Outro exemplo de clientelismo é a edição de licitações viciadas, ou seja, que apresentam critérios que só uma empresa pode cumprir, o que já definiria o resultado antes mesmo do seu lançamento. E não apenas a classe política se compromete nesse caso. Aos poucos, as peças da máquina pública vão enferrujando, contaminando funcionários públicos de diversos setores e escalões, prestadores de serviço, enfim, comprometendo o funcionamento do Estado de forma geral.
ResponderExcluirAlguns dos outros que ficam de fora tem apenas duas saídas, vão para a oposição, que reúne, na grande maioria, os frustrados pelo esquema que não deu certo para eles, ou organiza aqueles que estão de forma da “mamata”, mas doidos para entrarem nela. Ou tornam-se cidadão conscientes e realmente vão em busca de melhorias sociais, trabalham, criam projetos e promovem o que eles acham o certo na esperança de conscientizar a parcela da população para fazer o mesmo e destravar as máquinas públicas.