DIALÉTICA

A revolução não é feita com fatos isolados

Analisar algo dialeticamente é lembrar 
que não se deve avaliar os fatos 
como algo “estático” (parado), 
pois para a dialética, tudo é movimento, 

POR BRUNO TORRES


A dialética pode ser entendida como um método de avaliação e analise da realidade. Podemos utiliza-la inclusive, em questões biológicas, em analises de fenômenos da natureza, e é claro, em fenômenos sociais, principalmente os que estão envolvidos com coisas concretas, como o trabalho humano e a produção, no campo da economia. 

Como método de analise, a dialética não pode olhar para os acontecimentos como fatos isolados. A mutualidade é algo presente em tudo. As substâncias se relacionam entre si, as células dos seres vivos se relacionam entre si, os órgãos dos animais se relacionam entre si, a economia mundo a fora se relaciona entre si, e assim sucessivamente. Algo que atinja uma via respiratória minha, provavelmente irá atingir o meu pulmão, assim como algo que tenha impacto na economia dos EUA terá impacto na economia do Japão e outros países. 

É compromisso daqueles que vão analisar algo dialeticamente, que não vejam um objeto de analise como algo isolado, mas sim, como algo mutual, que se relaciona com outros objetos e fatos, e que se algo influir nele influirá também nos objetos e fatos que se relacionam com ele. 

Nas nossas analises, também devemos considerar que todo objeto de avaliação se encontra em meio a contradições internas, que podem ser chamado de “luta dos contrários”. Em átomos, podem ser encontrados prótons e elétrons; em objetos maiores observa-se disso polos magnéticos inversos; na economia, observa-se as relações de produção e as forças produtivas, que uma hora a relação de produção pode estimular o desenvolvimento das forças produtivas, e em outra ele pode estimular o retrocesso das forças produtivas. 

É compromisso também, daqueles que analisam os objetos dialeticamente, que vejam os acontecimentos e objetos de avaliação como objetos que são em si, contradições internas na sua essência, ou que são frutos de outras contradições. A luta dos contrários na economia, inclusive, cria uma contradição derivada dela. Após as relações de produção estiverem se confrontando com as forças produtivas isso gerará uma crise de estrutura na economia, que daí se acirrará uma luta dos contrários derivada dela, que é a luta de classes, entre a classe dominante e a classe trabalhadora. Na conjuntura atual, essa classe dominante é a burguesia, e a classe trabalhadora somos nós. 



Devemos levar em conta também, que as transformações, isso é, as mudanças drásticas, não ocorrem por mera vontade de uma pessoa, ou por mero acontecimento isolado. Quando uma transformação qualitativa real vem a ocorrer, é porque pequenas mudanças vinham a se acumular até chegar um patamar insustentável. Podemos pegar o exemplo da água e do vapor. Para a água se tornar vapor, não basta esquentar minimamente por uns segundos o recipiente que contém a água, pois para ela vir a se tornar vapor, várias moléculas de água antes, tiveram que ser agitadas até a um ponto crucial, e o acumulo quantitativo das agitações de várias moléculas geraram a uma transformação qualitativa, que fez a água deixar de ser água, e se tornar vapor. 

Assim são as transformações sociais. Por exemplo, uma verdadeira mudança qualitativa na sociedade, não ocorrerá por mera boa vontade de um político eleito, mas sim pelo acumulo de mudanças quantitativas na sociedade, isso é, pelo acumulo de eventos, que juntos permitam uma mudança qualitativa maior, uma transformação, uma revolução. 

Uma pessoa que se compromete a analisar algo dialeticamente, também deve lembrar que ele não deve avaliar os fatos como algo “estático” (parado), pois para a dialética, tudo é movimento, tudo se mexe, nada é parado. Os átomos tem um “tempo de vida” que os faz decair e formarem outro tipo de átomo; nossas células sempre estão em constante mudança, sua essência pode ser a mesma, mas em questões de segundos, organelas da célula já tiveram partes substituídas por moléculas que entraram nela; os seres vivos nunca estão em uma forma biológica estática, eles sempre evoluem e estão sujeitos a mudanças no tempo; a sociedade humana sempre está sujeita a transformações ou revoluções sociais. 

“Tudo é movimento, nada é estático”, esse possivelmente, é o mais importante lema que deve ser considerando em toda e qualquer analise dialética. Tudo está sujeito ao movimento, e por consequente, está sujeito à mudança. Engana-se aquele que diz que “a sociedade não vai mudar, esse povo luta em vão”, isso é uma analise que não corresponde a realidade material. 

No capitalismo, essa regra também se aplica. A produção, circulação, e distribuição de mercadorias estão em constante movimento. É necessário o movimento de capital, na sociedade, para que o capitalismo não quebre. Esse é a principal razão pela qual devemos olhar os protestos e greves como “golpes” na produção de capital. Uma vez atingido esse “movimento econômico”, as relações produtivas capitalistas são golpeadas. A isso se deve a importância de greves e protestos para o movimento socialista, para golpear o capitalismo em algo crucial: no “movimento”. E é justamente o acumulo desses eventos e de pequenas mudanças, que atingem o capitalismo em pontos cruciais, que pode tornar o capitalismo insustentável, e nos ajudar a erguer o socialismo cientifico.

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