Financiamento privado de campanha atrapalha a democracia eleitoral
Enquanto empresas financiarem candidatos,
não dá para falar em ética política,
pois dinheiro privado patrocinando
mandatos públicos eletivos não dá certo
REDE BRASIL ATUAL
A declaração do tucano Aécio
Neves, pré-candidato a presidente, a
favor do financiamento empresarial o coloca ao lado do malfadado
patrimonialismo que põe o dinheiro e o patrimônio público a serviço do
enriquecimento privado.
O Supremo Tribunal Federal (STF)
vai dando passos largos para definir que o financiamento empresarial de
campanhas eleitorais está em desacordo com a Constituição Federal. O julgamento
iniciado esta semana de ação movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já
tem quatro votos a favor do argumento de que empresas não são povo e, por isso,
não podem dar dinheiro a políticos. Simples assim.
Porém, antes mesmo da decisão da
Corte, que, aliás, tende a fortalecer a necessidade de financiamento público de
campanhas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) já critica o STF pelo simples fato
de ter colocado em pauta este julgamento.
"Não gosto muito desse
ativismo político do Supremo. (....) Em relação ao financiamento de campanhas,
o que temos de estabelecer é a transparência absoluta. É saber quem doou e para
quem doou, para que não possamos, até a pretexto de estarmos criando limites,
estar estimulando o caixa dois, que é o que me parece que pode acontecer",
disse o potencial candidato do PSDB à Presidência da República.
Ora, o argumento de estimular o
caixa dois para justificar o atual modelo de financiamento de campanhas é tão
tosco como dizer que o teto salarial no funcionalismo estimulou o juiz Nicolau
dos Santos Neto a procurar aumentar sua renda desviando dinheiro da obra do
Tribunal Regional do Trabalho.
A declaração de Aécio mostra ser
ele adepto da continuidade do malfadado patrimonialismo que coloca o dinheiro e
o patrimônio público a serviço do enriquecimento privado e corrompe as
instituições políticas brasileiras há séculos.
Se os partidos tiverem de fazer
campanha com um limite de verba, a lei será igual para todos, e cada legenda
que se adapte para fazer campanha de acordo com a realidade de seu orçamento.
Quem tem base popular construída e representatividade de fato se elegerá,
fazendo campanhas cívicas. Terão mais dificuldade em se eleger quem vê mandatos
apenas como um empreendimento dependente de marketing maciço e de
"investidores".
O maior problema da corrupção na
política nos mais de 500 anos da história do Brasil é o patrimonialismo. Daí
surgiram fenômenos nefastos como o coronelismo, o nepotismo, as oligarquias
políticas e, mais recentemente, o lobismo empresarial. E não há maior lobismo
do que o financiamento empresarial privado de campanhas eleitorais.
É aí que reside o patrimonialismo
"moderno". Bancos, empreiteiras, planos de saúde, indústria do
petróleo estrangeira e outros segmentos econômicos financiam eleições e depois
cobram "favores" de "seus" eleitos, seja para direcionar o
orçamento da União para seus negócios, seja para conseguir leis regulatórias
que as beneficiem, seja para obter tarifas e pedágios às vezes abusivos, seja
para se apropriarem de patrimônio público a preço de banana como ocorreu na era
das privatizações tucanas.
Não há como falar a sério em ética e moralização política, enquanto bancos financiarem bancadas de parlamentares que deveriam defender os clientes e correntistas dos juros e tarifas altas. Não há ética política possível com empresas de planos de saúde financiando parlamentares que farão corpo mole pelo SUS, mantendo-o precário, para não atrapalhar as vendas dos planos de saúde privados.
Não há como falar a sério em ética e moralização política, enquanto bancos financiarem bancadas de parlamentares que deveriam defender os clientes e correntistas dos juros e tarifas altas. Não há ética política possível com empresas de planos de saúde financiando parlamentares que farão corpo mole pelo SUS, mantendo-o precário, para não atrapalhar as vendas dos planos de saúde privados.
E não há moralização política
possível com empreiteiras financiando candidatos que irão direcionar o
orçamento público para obras do interesse lucrativo da empresa, em detrimento
de outras mais importantes para o interesse público. Isso quando não acontece o
pior, com as empresas financiadoras de campanha controlando as nomeações em
postos chaves para superfaturar contratos, como ocorreu nos trens
metropolitanos paulistas.
Recentemente vimos também com um
didatismo impressionante o escândalo do bicheiro Cachoeira atuando para
financiar campanhas e depois operando na nomeação de pessoas dóceis a seus
interesses no governo de Goiás.
Foi por tudo isso que OAB moveu a
Ação Direta de Inconstitucionalidade 4650, contra a doações por empresas
privadas a candidatos e a partidos políticos, já que PSDB, PMDB e outros
partidos conservadores, acostumados a se elegerem com as regras atuais,
obstruem a reforma política no Congresso.
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