POLÍCIA PARA QUE?

Um estado policial demonstra fraqueza social

Quanto mais frágil o tecido social
de uma nação mais a
super estrutura se vale do
aparelho repressor policialesco

WALQUER CARNEIRO


“Não sou bandido, mas tenho medo de polícia”, no Brasil essa frase é constantemente pronunciada por pessoas as quais a instituição polícia deveria ser mais simpática, pois a regra diz que o dever da polícia é coibir crimes e caçar os foras de lei de acordo com delitos praticados, o que em tese deveria tranquilizar a pessoas, porém não é assim. 


Quase todos os países tem instituído o sistema de repressão a criminalidade, comumente conhecido como polícia. O termo polícia significa de forma geral “guardador da cidade”, o prefixo radical grego poli leva ao termo cidade. 

Porque será que o senso comum tem um certo receio de tratar com policiais, já que de forma geral o que a estrutura de poder passa para as pessoas é que a polícia existe para proteger o cidadão e garantir a segurança da população? Muitos sociólogos e antropólogos tentam explicar esse comportamento e acabam por descobrir que a força e a energia usadas pela polícia é que leva até mesmo a pessoa de bem sentir temor da polícia, comportamento esse que deveria ser o inverso, como foi considerado no inicio do parágrafo, porém vamos fazer uma análise histórica. 


A instituição polícia, a rigor, foi criada para proteger o cidadão, todavia nos primórdios da civilização humana, mais precisamente na antiga Grécia, cidadãos eram todos os indivíduos que viviam na cidade sendo detentores de status especial que os diferenciavam dos demais indivíduos que viviam fora da cidade e que eram designados como campesinos. Estes indivíduos eram explorados por aqueles que viviam no interior das polis que detinha o poder econômico, bélico, cultural e científico utilizados para subjugar os campesinos, fato esse que gerava a revolta, e para coibir as ações agressivas criou-se a figura do “guardador da cidade” que tinha como prerrogativa a de assumir atitudes repressivas. 

São dois os perfis desenvolvidos pelos guardadores das cidades com o passar dos séculos: reprimir ações populares e servir aos senhores das polis. As ações dos senhores das polis era de se apoderar dos bens e riquezas em benefício da categoria, e isso fomentava a miséria que obrigava aos campesinos a roubar provocando a ação repressora dos guardadores da cidade que eram pagos pelos senhores das polis. Foi daí surgiu o mito de Robin Hood que comandava populares revoltosos que se escondiam na floresta, lembrando que maior inimigo de Robin Hood era um delegado ou xerife. 

No decorrer do tempo os guardadores da cidade passaram e ser desvalorizados, ao mesmo tempo que os senhores das polis se tornavam dependente desse grupo e simultaneamente crescia nos indivíduos do grupo de guardadores das cidades a consciência da sua importância e do seu poder, tanto que a partir de certo momento na história passaram a agir como uma corporação com regras próprias que determinavam seu comportamento, tornando-os independente enquanto grupo organizado, todavia, por diversos interesses, ligados aos senhores das polis e até hoje guardando no seu inconsciente a memória de servir aos senhores das polis e reprimindo aos indivíduos reles. 

A polícia no Brasil, hoje, é muito menos repressora do que há 40, 60 anos atrás, mas ainda guarda vestígios de servir ao estado mais do que a pessoa porque essa é origem da instituição, além de que o país é muito desigual, e essa desigualdade leva ao conflito social fazendo com que a ação repressiva da polícia se torne evidente. 

Quanto mais desenvolvida econômica e cultural uma nação, e quanto mais equitativa a distribuição da riqueza de um país entre a população menos necessidade de atuação repressora da polícia.

Um comentário:

  1. Muito interessante a sua informação sobre a origem da organização polícia Walquer. A grécia é o berço e referência das relações sociais ou tecido social do qual fazemos parte na atualidade. Segundo Montesquieu, Hobbes, Locker e Rousseau, filosófos defensores do pensamento jusnaturalista e que tiveram importante influência na consolidação do pensamento liberal,que daria origem a democracia duzentos anos depois; à milhões de anos, por questões de segurança e para proteção dos bens e vida de cada um, o homem saiu do estado natural e resolveu viver em sociedade e sob o dominio do Estado, portanto a vida em sociedade não seria um ambiente natural do homem, mas um artificio fundado em um contrato. Por meio desse pacto todo indivíduo esta comprometido com os demais a transferir o seu direito natural de utilizar a força para se defender e satisfazer os seus desejos para um ser artificial e coletivo, denominado na mitologia gréga de Leviatã, que nada mais é que o Estado. Os homens pactuam para abdicar da força fisica individual em favor do estabelecimento de um Estado que lhes garantisse a liberdade e a propriedade, e não para que contra elas atente, Portanto, quando esse Estado falha é um pacto que é quebrado e isso leva, muitas vezes, o homem voltar ao estado natural, conforme observamos diariamente. A Polícia brasileira, ao longo da história, sempre teve a função de defender o Estado,de direito ou de usurpação do direito, isso contribuiu para a imagem negativa junto aos cidadaos, porém, desde a constituição de 88, a corporação passou por diversas transformações e hoje tenta-se fazer uma polícia voltada para defesa da sociedade como um todo, missão esta que tem como principal obstáculo, entre tantos, a falta de políticas públicas e principalmente educacionais que realmente forme cidadãos consciente dos seus direitos e deveres, pois só assim teremos políciais conscientes, pois é da sociedade que vem os profissionais públicos e privados,ou seja: a polícia é o retrato da sociedade, muda-se o Estado ou então logo retornaremos, todos, ao estado natural.

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