MISÉRIA PROFUNDA

Sebastião enganado pela vida ainda tem esperança

Sebastião e sua família sofrem 
com a sorte que a vida lhes 
trouxeram sem que nada e 
nem ninguém se compadeçam

TEXTO – REDAÇÃO DO BLOG

Miséria é uma situação que ninguém escolhe como modo de vida. Para a miséria a pessoa não vai por livre e espontânea vontade, e sim é levado, não contra a vontade, pois a miséria é algo traiçoeiro que ronda a existência de todo ser que pensa e acomete aqueles que têm dificuldade para pensar.

Sebastião Souza Bezerra, 54 anos, nordestino, operador de trator de esteira e de pneu, profissão que o acaso do destino lhe pôs nas mãos, pois ele nunca estudou para poder ser outra coisa na vida, mas que apesar de tudo ele agradece a Deus por isso.

Tião é um trabalhador que há seis anos está em Dom Eliseu, vindo da cidade de Imperatriz com a esperança de dias melhores nesta cidade que deveria ter lhe garantido ao menos o necessário para viver com o mínimo de dignidade, mas a cidade para ele foi de uma crueldade insana, como foi insano todo o sistema que lhe negou tudo o que ele necessitava para não viver a situação miserável que lhe foi imposta por uma sociedade egoísta e covarde.

Quando Sebastião aqui chegou ele transbordava de esperança e contentamento, pois conseguiu trabalho, ganhou dinheiro, até que um dia foi contratado para uma grande empreitada para executar uma derrubada de floresta e gradeamento para a formação de pasto em uma fazenda próxima da sede do município. O trabalho teria que ser feito por que a fazenda estava sendo invadida por supostos sem terra, e por isso foi combinado que Tião trabalharia noite e dia quase sem descanso, o trabalho poderia fazer entender que a fazenda fosse produtiva porém disso Sebastião não sabia, e nem tão pouco o fadário que se aproximava.
 
 
Sebastião trabalhou na propriedade por dois anos e oito meses ininterruptos, sendo que neste tempo todo não recebeu pagamento algum, a não ser autorização para comprar alimentos e artigos para necessidades básicas, mas com isso ele não se incomodou, pois o dono da fazenda, um médico cirurgião plástico, lhe pareceu um cidadão muito distinto, e que no fim das contas o fazendeiro acertaria a conta de acordo com o que fosse de seu direito, pensou Tião.

Porém chegou um tempo que a empreitada findou-se e Tião ficou esperando que o patrão lhe chamasse para o acerto, mas isso não aconteceu e então ele resolveu procurar o fazendeiro, e recebeu como resposta que ele não tinha nada para receber. Tião ficou preocupado, esperou mais uns dias e continuou a executar pequenos trabalhos no local e algum tempo depois procurou novamente o patrão, que desta feita chamou uns peões e mandou que eles dessem uma surra em Tião e o mandasse embora.

Tião foi espancado no cair da noite e saiu da fazenda desorientado sendo encontrado na beira da pista por uma empresário que lhe deu socorro e algum dinheiro. Isso tudo aconteceu há dois anos atrás, e depois disso Tião nunca mais conseguiu se estabilizar psicologicamente e financeiramente, sua vida ficou sem rumo e sem direção. 
 
 
Tião mora agora no Bairro Planalto em uma casa em péssimas condições onde ele está de favor com a sua companheira Raimunda Pereira de Oliveira, 35 anos e seis filhos pequenos numa situação de causar pena, numa casa que mais parece uma pocilga sem a mínima condição de ser habitada.

Há alguns meses Tião pensou que conseguiria se recuperar da situação de precariedade, pois conseguiu um emprego de tratorista onde trabalhou por quatro meses, até que a máquina quebrou, o serviço parou e Tião não recebeu pelos serviços, pois o dono do trator disse que não tinha o dinheiro, cerca de R$ - 3.000, pois o que recebera do trabalho ele havia comprado as peças do trator. Mas o proprietário da máquina lhe fez uma proposta, Tião fizesse o serviço de mecânica trocando as peças ele iria vender o trator e com o dinheiro da venda pagaria a Tião. Sem muita opção Tião aceitou na esperança de que agora tudo poderá dar certo.

Tião tem a clara noção da situação de penúria em que ele vive com sua companheira e filhos. Condição sub humana e degradante de extrema pobreza a qual ele não sabe como chegou e nem tem conhecimento de como sair de tal insignificância que leva ele, sua companheira e seus filhos a uma tristeza profunda, um poço escuro e sem saída, mas um fio de esperança insiste em habitar em seus olhos brilhosos de lágrimas contidas.
  

Um comentário:

  1. Lamentavel exemplo...existem muitos tiões espalhados em nossa região... que vergonha para para os que choram ``miseria`` . parabens Walquer reportagem emocionante e exemplar para os que choram de barriga cheia !!! Quw bom termos nos encontrado na casa de um amigo incomum ... abtaços

    Ronie Leite

    ResponderExcluir

EDITA LEGAL