O POVO DO PARÁ VAI AO PLEBISCITO

Não estão bem claras as razões para a criação de Carajás

O discurso demagógico de
melhorar a saúde e educação
não é justificativa apropriada
para a tentativa de separação

WALQUER CARNEIRO

No dia 11 de dezembro o povo paraense participará de uma atividade cidadã e democrática inédita no Brasil com a realização do plebiscito para a criação dos estados de Tapajós e Carajás. A campanha é, de certa forma, curiosa, pois tem como candidatos duas figuras abstratas, o Sim e o Não, e além de tudo existe uma grande desinformação quantos os propósitos e intenções para a criação de mais dois estados na federação, e aqui eu vou tratar sobre o plebiscito na região de Carajás.

O plebiscito é uma conquista da democracia, todavia essa ferramenta para ser bem utilizada tem que estar acompanhada da capacidade do povo se concentrar  em  análises dos motivos postos para a emancipação, já que a mobilização de ambas as posições está se dando mais no campo subjetivo do que no objetivo. E, neste momento,  a população da região de Carajás não está preparada para utilizar com eficiência a ferramenta do plebiscito.

A população da região não está sendo mobilizado pelos fatos e sim pelo sentimento.  Nesta situação (do plebiscito), se a emoção toma o lugar da razão é uma demonstração que mais uma vez a massa está sendo manipulada em beneficio de uma minoria, e por isso vou tentar colocar aqui algumas informações concretas e objetivas.

A região sul e sudeste do Pará, como um todo,  tem menos de 50 anos de colonização, grande parte dos municípios desta região surgiram após o início da construção das Rodovias Transamazônica e Belém-Brasília, no início da década de 70,  sendo que os municípios mais antigos estão às margens do Rio Tocantins e Rio Araguaia, como Marabá e Conceição do Araguaia,  ambos com colonização centenária. Os rios facilitaram, em épocas anteriores,   o acesso às  localidades em suas margens.

Antes da construção das duas citadas rodovias seria impossível chegar onde está localizada, hoje, a cidade de Água Azul do Norte, que foi povoada a partir de 1978, em função da Transamazônica,  ou para ficar em um exemplo caseiro, falemos de Dom Eliseu, município onde este Blog é editado, cujo núcleo urbano veio a existência a partir de 1969, quando se iniciou a abertura da PA -70 (hoje BR-222), que também permitiu o aparecimento de Rondon do Pará. Antes de 1970 a região sul e sudeste do Pará era totalmente descolonizada, e tomada pela floresta, apenas os indígenas habitavam a região. Com a abertura de outras estradas importantes, como a PA – 150,  a região de Carajás foi sendo colonizada,  e no  inicio da década de 80 iniciou a exploração mineral com a descoberta da mina de ouro de Serra Pelada e retirada do minério de ferro de Serra dos Carajás.

Foi a  partir deste momento  que começou o movimento para a Criação do estado de Carajás, em uma região que ainda não tem consolidado nenhum setor de suas atividades. Sua base econômica e produtiva, precária,  está sendo montada, bem como a sua representatividade política, cultural e intelectual. Em suma,  a região de Carajás ainda não tem uma identidade formada, e por isso a criação do estado agora não é benéfico para o povo que aqui está. Pois pelo principio da lógica só se concede autonomia ao ente que apresenta condições de  conduzir suas ações, e esse não é o caso da região de Carajás.

Conceder autonomia para a região seria como uma família que  optasse atender aos apelos por  emancipação de  um filho de 14 anos, dando a ele a sua parte na herança,  deixando que  ele fosse viver sua vida por conta própria. 


A principal justificativa dos separatistas é que o governo estadual não reparte por igual os recurso e riquezas geradas no estado, e que a prioridade de investimentos é toda para a região norte e nordeste do Pará, porém creio que esse raciocínio é um equívoco, pois,  como foi dito a acima,  a região de Carajás tem menos de 50 anos de colonização, e consequentemente os investimentos em infra estrutura começaram a ser feitos a partir da década de oitenta, bem como a bancada política também começou a ser montada por essa época, e sabemos que o desenvolvimento de uma região depende, e muito da qualidade e compromisso de sua classe política.

A diferença do grau de desenvolvimento entre uma região paraense  e outra se dá não por motivos econômicos, mas sim por motivos antropológicos, referente a intervenção humana no meio ambiente, e aí temos que lembrar que a colonização da região norte e parte da nordeste do Pará teve inicio  a centenas de anos, e grande parte dos municípios tem sua fundação registrada  à época  do Brasil colônia, a exemplo de Capanema localizado na região nordeste paraense cuja  fundação remonta ao século XVIII.

Em fim, não é por falta de investimentos que o  sul e sudeste do Pará apresentam um  o baixo grau de desenvolvimento, o atraso regional é uma questão de gestão do governo e falta de compromisso da classe política regional, começando pelos deputados federais, passando pelos estaduais, chegando aos prefeitos e vereadores e desembocando no povo da região de Carajás  que, em sua maioria, está alheio às verdades dos fatos e são mobilizados por uma necessidade criada pelos mesmos grupos que pedem a criação do estado de Carajás. Estes que, nos últimos 30 anos,  não deram conta de atuarem de forma organizada direcionando  recursos para a região, e agora querem um estado para governar, sem,  no  entanto,  apresentarem o devido preparo para tal missão. 

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