LIXOS ATÔMICOS

Radioatividade,  preocupação para 200 anos

O competente jornalista Jaime Sautchuk
escreveu um excelente texto
mostrando a realidade sobre
a dificuldade de dar  fim nos resíduos atômicos

FONTE: PORTAL VERMELHO
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Vacinado pelo acidente do Césio 137, há 23 anos, Goiás não quer saber do lixo atômico das usinas de Angra dos Reis. Mas, sem querer, levantou com força um debate que é mundial, sobre o que fazer com os materiais radioativos dispensados por usinas energéticas e pelos arsenais dos países que detêm bombas atômicas, em especial Estados Unidos e Rússia.

Abadia de Goiás, localidade a uns 50km de Goiânia, é depositária dos restos do Césio 137. Há, ali, um depósito para este fim, que mereceu, entre outras reações, aquela famosa escultura das cruzes, de Siron Franco. Ademais, por conta disto, virar hospedeira da escória do mundo, é muito outra história.

O caso do Césio de Goiânia é classificado como acidente nível 5, numa escala mundial que vai de 1 a 7. E foi, digamos, um acidente fútil, quase doméstico. O produto radioativo estava em um aparelho de radiologia de um hospital abandonado. Catadores de ferro-velho abriram o tubo e a desgraça estava feita.

Imaginemos, então, outros acidentes de maior porte. O de Three Mile Island, em 1979, nos Estados Unidos, o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986 e o de Fukushima, outro dia, no Japão. Todos eles em usinas de geração de energia elétrica, mas classificados no nível máximo de gravidade.

Esses todos foram acidentes ocorridos. Mas o depósito Abadia de Goiás foi apontado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, a CNEM, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, como o provável cofre para guardar os restos do urânio relegado pelas usinas de Angra I e II, que não serve mais para gerar energia, mas continua radioativo.

Ou seja, todo material radioativo tem o que a gente pode chamar de prazo de validade. Isto serve tanto para o usado docilmente nas usinas térmicas, como para as ogivas que aguardam genocídios dentro de algum dos 23 mil mísseis que se supõe estejam armados ao redor do mundo.

Esse é um problema da maior gravidade, pois os países que produzem esse lixo ou não sabem onde armazená-lo ou sabem demais. Há sérias suspeitas no meio científico, por exemplo, de que bases militares dos Estados Unidos e de outros países, espalhadas pelo Planeta, acobertem depósitos de lixo atômico.

Onde estarão as ogivas engatilhadas pelos EUA e pela antiga União Soviética nas várias décadas da Guerra Fria? Boa parte daquele arsenal perdeu validade para sua finalidade, mas conterá radioatividade por mais 200 anos. Armazenar isso tudo não é coisa simples.


Para se ter uma idéia, o material que teria sido contaminado pelo Césio em Goiás pesa cerca de 6 mil toneladas. Tem de tudo o que se imaginar, de utensílios domésticos, roupas, brinquedos, bicicletas e até carros.

Essa tralha está guardada em Abadia de Goiás, em 1200 cofres (caixões) de madeira e metal, 2900 tambores de metal e 14 contêiners de metal, do tamanho de vagões de trem. Tudo fechado por grossas paredes de concreto armado, a 30 metros de profundidade.

Se no caso de um aparelho hospitalar o estrago foi desse tamanho, não é preciso relembrar a desgraceira de Chernobyl. Nesses casos, porém, estamos falando em situações em que o material radioativo já vazou. É preciso capturá-lo, não apenas guardá-lo.

No caso do lixo de usinas, com Angra, e de armas, contudo, supõe-se que o material esteja adequadamente acondicionado, já enterrado ou aguardando lugar para ser depositado. Qualquer descuido, porém, poderá provocar vazamento, e pronto.

Evitar ser depositário desse lixo, pois, é o melhor que se faz. É unanimidade em Goiás. Políticos de todos os partidos, empresários, trabalhadores, estudantes, cientistas, todos, enfim, enjeitam a oferta da CNEM.

É como se dissessem: goiano n’é besta não, sô!

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